Braga, PT – A Igeja e Convento da Penha

LUIS COSTA_ A IGREJA E O CONVENTO DA PENHA DE FRANÇA CONVENTO DAS CAPUCHAS DESCALÇAS DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DA PENHA DE FRANÇA

Antigo Recolhimento das Beatas Capuchas Fundado em 31 de Maio de 1652, por Pedro d’Aguiar e sua mulher Convertido em Convento regular da Ordem da Imaculada Conceição Pelo arcebispo Dom Rodrigo de Moura Telles

UBATI – Universidade Bracarense do Autodidacta e da Terceira Idade 2008

A IGREJA E O CONVENTO DA PENHA

Em 31 de Maio de 1652, os beneméritos Pedra de Aguilar e sua mulher fundaram no Campo de Santa Ana, lado sul, um Recolhimento de Beatas, ao qual deram o nome de Recolhimento de Beatas da Penha de França, destinado a sete recolhidas, nomeando sua primeira regente Ana de Santa Maria, natural de Guimarães.

Destinava-se este recolhimento a receber donzelas ou viúvas, que deveriam viver colectivamente na Regra de São Francisco. Depois da morte de Pedro d’Aguiar, a sua viúva dispondo de certos bens, em testamento, diz Monsenhor Ferreira, nos “Fastos”, que o recolhimento deveria ser convertido em Convento regular da Ordem da Imaculada Conceição, tendo o seu irmão Jerónimo de Barros, testado os seus bens com as mesmas condições.

Estes beneméritos, Pedro e mulher, já tinham sido os instituidores da extinta Convalescença do Hospital de São Marcos, e do coro da igreja de Nossa Senhora a Branca.

Mais tarde, nos princípios do século XVIII (1720), Dom Rodrigo de Moura Telles ampliou o recolhimento e mandou construir a igreja, com a bela tribuna de talha dourada, e as paredes interiores forradas a azulejo, celebrando ali a primeira missa em 18 de Dezembro de 1721.

Despendeu o arcebispo com toda a obra, 22 contos de reis, além da comparticipação da Misericórdia com o mesmo fim. Por provisão arcebispal de 5 de Junho de 1727, foi autorizada a transformação do recolhimento em Convento das Capuchas, tendo sido lido à grade o Breve impetrado e executado para Clausurar o Recolhimento e reduzi-lo a convento regular.

Foi nomeada para sua primeira abadessa, fundadora, a Madre Josefa Maria da Assunção, Prioresa que tinha sido do Mosteiro do Salvador, de Braga, para Porteira a Madre Maria Susana de Jesus, do mesmo Mosteiro e para a Vigaria e Mestra de Noviças a Madre Maria Josefa de Jesus, do Convento da Conceição.

Reportando-nos a Silva Thadim, e ao seu manuscrito “Diário Bracarense”, sabe-se que em 27 de Julho de 1727, “foram para o novo convento da Penha de França, as instituidores dele, que foram duas religiosas do Salvador, e uma da Conceição”.

Tempo decorrido o Arcebispo lançou o hábito a 13 noviças. Apesar da lei da extinção das Ordens Religiosas, de 1834, as femininas só acabariam com a morte da última freira professa, o que veio a acontecer a este convento que só acabou em 21 de Dezembro de 1874, data da morte da última freira, Maria Luísa da Natividade.

Em 12 de Maio de 1879, foram as instalações do convento cedidas, pelo governo, ao Asilo de infância desvalida de D. Pedro V, tendo-se demolido então o convento para no seu lugar surgir o actual edifício.

Podemos dizer que do antigo convento, resta o claustro, ajardinado, com um belo fontanário ao centro e, a pequena capela, sobre a qual nos estamos também a debruçar.

Mais tarde vieram para este asilo as internadas no Conservatório das Órfãs que tinha sido erecto, provisoriamente, por Dom Frei Caetano Brandão, no Recolhimento de São Domingos da Tamanca.

O INTERIOR DO TEMPLO

Robert C. Smith, no seu trabalho “Marceliano de Araújo”, lamenta que não havendo, infelizmente, documentação conhecida, só “à base das suas obras documentadas da Santa Casa e da Sé Primacial, podemos atribuir a Marceliano de Araújo dois outros insignes trabalhos.

Um deles é o chafariz do Pelicano, o outro (aquele que nos interessa para este caderno), é o grandioso púlpito da igrejinha de Nossa Senhora da Penha de França, uma das mais ricas e belas obras desta categoria, não somente do Minho como de todo o Portugal”.

De todo o conjunto de talha, só uma pequena e ínfima parte está documentada. Referimo-nos às grades de pau preto do coro da igreja, grades que ainda restam de todo o conjunto.

Sabe-se que o contrato para a sua execução foi assinado pela abadessa Josefa Maria da Assunção, em 14 de Novembro de 1726, com o ensamblador João Ferreira Velho, da rua da Cónega, sendo, portanto, a única parte do recheio que se pode atribuir e documentar.

Smith, acha que entre a data da fundação do convento e a provável data da feitura do púlpito, devem ter decorrido muitos anos, porque analisando as características estilísticas, atribui a factura ao período das obras documentadas de Marceliano, todas pertencentes à década de 1730/1740.

No entanto, afirma que não faltam “outros motivos cuja linguagem ornamental é mais evoluída”. Na sua análise, diz “o que mais impressiona, à primeira vista, no púlpito que domina a parede revestida de azulejos em frente da porta de entrada lateral (característica dos conventos de clausura), é a grande extensão do seu dossel, que mede quase a altura do resto do conjunto, graças ao tamanho duma figura alegórica, dramaticamente colocado por cima dele”.

Desenvolve a seguir a análise do figurado do púlpito. Diz que a figura alegórica, com “o seu corpete e plumas na cabeça, à moda joanina, deve representar a Igreja Militante, dados a lança e o escudo e o modelo de um templo que sustenta na mão esquerda” (estamos a lembrar-nos da estátua que o encima o Arco da Porta Nova).

Refere que esta representação “é análoga do órgão da Epístola da Sé, como sabemos obra de Marceliano de Araújo. Tece ainda vários elogios a toda a obra de talha do rico púlpito, cimalhas, ornamentação vegetal, comparando-o até, sendo é certo com outro púlpito anónimo – o do Salvador – muito mais pobre no seu trabalho mas ainda assim digno de apreço e que muito se assemelha com o da Penha.

Para chegar à sua tese de que o autor do púlpito da Penha pode ser, sem dúvida, de Marceliano de Araújo, Smith apresenta no seu trabalho obras documentadas como, por exemplo, cinco meninos dourados, dois em pé que correspondem aos que vêem no retábulo da Misericórdia, e outro dois sentados em esferas como os que encimam a porta Travessa desta igreja.

Outra característica muito usada por Marceliano de Araújo, são aas figuras dos Atlantes, figuras irreais que parecem suportar sobre os seus ombros, colunas, bastamente representados em alguns altares do Pópulo. Baseado nestas semelhanças e ainda a época, Smith não tem dúvida em atribuir a Marceliano de Araújo o púlpito da Penha de França.